A agenda de reindustrialização verde emerge como um dos principais eixos do desenvolvimento econômico no século XXI. No Brasil, ela ganha corpo com a nova política industrial lançada em 2024 — a Nova Indústria Brasil (NIB) —, que busca estimular cadeias produtivas sustentáveis, modernização tecnológica e transição energética. Mas, para a economista Ligia Polido, referência nacional em políticas fiscais e tributárias, a chave do sucesso está na arquitetura dos incentivos fiscais e na coerência entre política fiscal e ambiental.

“Sem instrumentos fiscais bem desenhados e transparentes, não há como sustentar uma reindustrialização verde verdadeira. O Brasil precisa ir além da retórica e construir um sistema de incentivos que premie inovação limpa, aumente produtividade e reduza desigualdades regionais.”
Com sólida trajetória acadêmica e técnica — incluindo pareceres para órgãos públicos e think tanks, consultoria para projetos do setor produtivo e presença constante em veículos como Valor Econômico, CNN Brasil e Exame —, Ligia Polido defende que o momento exige um novo modelo de política fiscal, baseado em metas climáticas e produtividade industrial, não em renúncias tributárias genéricas.
“Estamos em um ponto de inflexão. Ou reconfiguramos nossos subsídios e incentivos com base em dados, ou corremos o risco de repetir os erros das décadas passadas, em que políticas industriais serviram mais a grupos de interesse do que ao país.”
Uma política fiscal para o século XXI
Ligia destaca que o desafio central está em transformar a política fiscal em um vetor de transformação produtiva e ambiental. Isso inclui desde rever incentivos setoriais ineficientes, até criar mecanismos de precificação de carbono, crédito tributário para inovação verde e estímulo a cadeias locais de energia limpa.
“Os países da OCDE e da União Europeia já estão integrando metas ambientais aos seus orçamentos públicos e regimes tributários. O Brasil precisa caminhar nessa direção com urgência, especialmente se quiser atrair investimento estrangeiro qualificado.”
A economista ressalta que o modelo atual ainda carece de transparência, previsibilidade e mensuração de impacto. Segundo dados compilados por ela, mais de R$ 350 bilhões são concedidos anualmente em renúncias fiscais no Brasil, grande parte sem avaliação técnica rigorosa.
“O que justifica manter incentivos que não geram empregos, não aumentam exportações e ainda comprometem o equilíbrio fiscal? Precisamos de um ‘orçamento verde’ com contrapartidas claras e objetivos de impacto.”
O Brasil como potência sustentável — mas com base sólida
Ligia Polido aponta que o Brasil possui vantagens naturais e estratégicas únicas — matriz energética limpa, biodiversidade, território extenso —, mas que essas vantagens só se traduzirão em competitividade internacional com uma arquitetura tributária compatível com a economia de baixo carbono.
“Tributar carbono, desonerar cadeias verdes e fortalecer o financiamento à inovação são caminhos viáveis. Mas sem coordenação federativa e simplificação normativa, o custo de transição será alto e ineficiente.”
Ela defende ainda o uso de instrumentos como zonas fiscais verdes, reduções condicionadas a metas de descarbonização e maior integração entre a política industrial e o novo arcabouço fiscal:
“O novo regime fiscal precisa deixar de ser apenas uma âncora de controle de gastos e se tornar também um indutor de transformação produtiva. Crescimento sustentável e responsabilidade fiscal não são opostos — são complementares.”
Conclusão: O papel do Estado inteligente
Com mais de duas décadas de atuação no campo econômico e jurídico, Ligia reforça que o futuro do país passa por um Estado inteligente, capaz de coordenar investimentos, alinhar regras e promover competitividade limpa.
“A questão não é gastar mais ou menos, é gastar melhor. Uma política fiscal moderna é aquela que induz progresso técnico, reduz desigualdades e responde aos desafios do nosso tempo — e o desafio da descarbonização é o maior deles.”
Ligia Polido
Economista, professora do Insper, consultora em políticas fiscais e tributárias, e referência nacional em finanças públicas e regulação econômica.